sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O Corpo

Ama quem te deseja. Deseja quem tem ama. Prova que o amor pode ter paixão e a paixão se pode transformar em amor. Mas num círculo de afectos, as pontas não entram. Tudo são estádios que podem conduzir a um outro. Mas não são o outro. Desejar um corpo não é amá-lo. Não é amar a quem ele pertence. Tesão é paixão. Sensualidade do desejo é vontade do Sexo. Mas amar um corpo é dar-mo-nos a quem ele pertence. Porque o que se deseja muitas vezes não é o que se vem amar. Mas o que se chega a amar deve ser objecto do nosso desejo.

Num mundo de afectos instantâneos e estímulos constantes as coisas confundem-se. Desejam-se mamas. Desejam-se ombros largos. Amam-se, dizem eles. Abraçados para fotografias com largos sorrisos. Choros na almofada sozinhos. Não há amor. Apenas desejos secos. Pólvora vazia. Cartuchos gastos em penetrações avulsas. Amor, diziam eles. Desejo seco, de sexo, de corpos suados. Isso sim.

A realidade é sempre lixada. Como o reflexo no espelho da casa-de-banho de manhã. Existem sempre olheiras. E cabelos em desalinho. Porque os corpos estão nus. Ali na frente daquele reflexo desprovido de empatia. Mostra todos os pequeninos defeitos. Um sinal. Uma cicatriz. Uns quilos. E a realidade é o amor. Que faz nascer o desejo. Pela tesão que nasce de um corpo que é apenas nosso. Para nós. Para quem chega por trás para abraçar quem o reflexo mostra. 

Sem comentários: