segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Os Rostos De Nova Iorque

 
O que é que faz uma cidade?
Prédios, ruas, avenidas.
Pessoas!
 
Nova Iorque. Sempre lá quis ir. Agora quero sempre voltar. Não sei se será alguma vez a cidade onde irei morar. Espero conseguir voltar, no entanto. Vou vendo filmes. Lendo Livros. Vou seguindo o Humans of New York. E gosto. De tudo. Dos filmes, dos livros e das pessoas.
 
Cada rosto tem um sonho.
Cada rosto tem uma ambição.
Cada rosto tem uma desilusão.
 
 
Quando lá estive, numa noite, desci os 17 andares até à rua. Ela estava a dormir. Enrolada na coberta. Respirava calmamante. Via-lhe o peito subir e descer durante a respiração. Eu como não estava a conseguir dormir levantei-me, vesti-me e desci.Quando atravessei a porta do Hotel o porteiro cumprimentou-me. E vim para a rua. Chuviscava nesse dia. Nada de mais. Coloquei um gorro e comecei a andar.
 
Estava sozinho à noite na cidade que sempre quis ir. Foi perturbante e emocionante. É difícil de explicar. Tudo parecia diferente, ainda que já tivesse andado naquelas ruas pelo menos meia dúzia de vezes. Só estava aberto uns dinners, umas lavandarias e umas lojas que não conseguia dar nome. À noite todas as pessoas são diferentes. Mas continuei a andar. Passei por casas típicas. Prédios típicos. Ruas estreitas que ligavam a avenidas largas. Park Avenue não tinha quase ninguém. Apenas umas pessoas que fumavam cigarros numa ombreira da porta. Ignoraram-me e eu ignorei-os. Cheguei à Quinta Avenida e ao Central Park. Enchi-me de alguma coragem e entrei no parque. O parque à noite é assustador e belo ao mesmo tempo. No meio olhamos para os lados e vemos aqueles prédios enormes todos iluminados. Mil e quinhentas luzes. Mil e quinhentas pessoas estão ali a viver. Mais rostos que não via. Mais sonhos que nunca vou saber o que são. E nunca vou saber se se concretizaram. E o engraçado é que a vida de muitas daquelas pessoas podem ser o sonho de outras mil e quinhentas pessoas que não estão ali. Segui para sul. A chuvinha tinha parado. Entrei em Times Square. Mesmo àquela hora estava cheia de gente. Tanta gente.
 
Quando dei por mim estava nos Piers com Brooklyn no outro lado do rio. Decidi voltar. Comecei a subir para norte. Segui por Lexignton Avenue. E outras que não me lembro o nome. Madison Avenue, lembro-me. Encontrei um café, ou algo parecido, aberto. Entrei e pedi um café. Um tipo indiano serviu-me. Ele percebeu que era turista. Perguntei-lhe se tinha sido pelo sotaque. Afinal, numa cidade de tanta gente, os sotaques são muito diferentes. Não, disse-me ele, pela forma lenta como andas. E eu ri-me. Porque ela também me diz que ando devagar. Eu prefiro achar que é Ela que anda rápida demais. Sentei-me lá fora. Ele sai detrás do balcão e senta-se ao meu lado. Acende um cigarro. Gostas da cidade? Pergunta-me. Sim. Mas à noite é mais bonita não é? Concordo em silêncio enquanto abano a cabeça. Pensava que tinha sempre gente, digo de forma ingénua. Ele sorri. Isso nos filmes acontece, diz ele, mas é uma cidade, a determinada altura todos precisamos de dormir, vieste sozinho? Não, a minha namorada está a dormir no hotel. É como te digo, a determinada altura todos precisamos de dormir. Mas é bonita à noite, volta a dizer. Concordo. Eu prefiro a cidade à noite, fala quase sozinho. É mais bonita. É ainda maior. E as pessoas que se encontram, são diferentes. Porquê? Pergunto-lhe. Ele sorri, meu amigo, nunca tinhas parado aqui de dia. E era verdade. Quando acabei de beber o café cumprimentei-o e continuei para norte.
 
Subi no elevador os 17 andares. Quando entrei ela ainda estava dormir. O peito continuava a subir e a descer. Calmamente. Deitei-me ao lado dela. Abracei-a. deixei-me dormir.  
 
 

2 comentários:

mmm´s disse...

Um professor de Filosofia absolutamente kantiano!

E disse...

Completamente. A famosa moral Kantiana, um dos ensinamentos mais difíceis de seguir.