domingo, 27 de outubro de 2013

Coney Island Baby

As memórias de Nova Iorque estão muito ligadas ao meu pai. E à música que ele ouvia. Lembro-me quando  fomos pela primeira vez a Coney Island. Chovia como o raio. Ficámos reféns de um dinner com vista para o mar. Era puto e a chuva não me incomodava. E alí, ainda menos. Porque aquela cidade, a cada canto, a cada esquina, a cada quarteirão era diferente de tudo, sendo exactamente igual a tudo.

Estávamos sentados numa mesa junto ao vidro. Eu tinha a minha parka verde vestida. Como eu adorava aquela parka. O meu pai tinha um corte de cabelo que hoje seria capaz de o constragir. Mas o meu pai era cool. Nunca ninguém vai sorrir como o meu pai. Ele pediu um batido de morango para mim e um café para ele. French Toasts para os dois. Quando nos entregaram os nossos pedidos ele pergunta-me se eu sabia que aquela cidade tinha um música para quase todas as zonas. Que quando regressássemos ele mostrava-me a desta zona.

Foi assim a primeira vez que ouvi Coney Island Baby. Foi assim a primeira vez que ouvi Lou Reed. Foi assim a primeira vez que tomei conheceimento de uma outra Nova Iorque. Uma Nova Iorque da música, de Andy Warhol. Do Chelsea Hotel. Da Eddie. Dos Velvet Underground. Foi assim que se continuou a desenvolver a minha New York Love Affair.

Hoje, morreu Lou Reed. E hoje recordo Coney Island a chover como o raio. Eu com uma parka verde a ouvir uma das músicas que vão passar o teste mais fodido de todos, o do tempo.


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