quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Mais Uma Manhã Mais Um Euro


Foi chamado para comparecer no local. Tinha acabado de chegar à esquadra naquele dia. Tinha dormido mal. Ainda réstias da sensação do espaço vazio ao seu lado no lençol. Estava a preparar-se para beber um café acompanhado de umas aspirinas quando lhe chamaram e lhe deram uma morada. Olhou para o papel e perguntou qual era a situação. Não lhe disseram, não sabiam. O telefonema foi feito há coisa de 30 minutos. Desconfiam de um casal cujas brincadeiras foram longe de mais. “Quem fez o telefonema?”. Disseram que foi o gerente mas que não se alongou muito. Pedia a presença da polícia e era só. “Foda-se!” disse para si quando saia e entrava no carro.
Pelo caminho acendeu um cigarro. Era o último. Jogou o maço para o chão. Para o cemitério onde jaziam inertes muitos outros maços. De várias marcas. Não havia fidelidade a uma determinada nicotina. Pelo caminho olhou para a morada. Conhecia o local. Conhecia o sítio. Já lá tinha ido. Primeiro foi com quem lhe aquecia o coração e agora lhe deixa o lençol frio. Uma tentativa parva e desesperada de recuperar para junto de si quem fugia. Tentou pelos piores motivos. Tentou com os piores meios. Falhou. Mas ficou umas últimas horas de puro egoísmo em que esteve dentro de quem queria. De quem amava. De quem ainda tem o cheiro quando depois do banho se limpa às tolhas em que ela se limpou. Depois voltou por várias vezes. Com putas a quem pagava para o fazerem lembrar e recordar as últimas horas de comunhão. Levava na mala uma cabeleireira ruiva que pedia para colocarem. Elas não reclamavam. Eram pagas para ter sexo com estranhos. E aqueles não eram os pedidos mais estranhos que lhes faziam.

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