quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Termina Assim


Não me dei conta que a madrugada deu lugar à manhã. A uma manhã ainda mais quente e húmida. O sol levantou-se. Cafés abriram e as pessoas começaram a fazer a sua vida. Ou deveriam começar. Não vejo ninguém na rua. Também ainda deve ser cedo. Olho para o pulso esquerdo, esqueci-me do relógio. Tiro o telemóvel do bolso direito, sem bateria. Tento adivinhar, com base nas minhas duas semanas nos escuteiros, pela altura do sol as horas. Desisto. Está demasiado quente.  
Sento-me numa paragem. A t-shirt cola-se às costas e ao banco. Sinto-me maldisposto com este calor matinal. Oiço o silêncio. O que é uma coisa assustadora de se ouvir. Começo a ficar ansioso. Porque não vejo nenhum carro. Nenhum pássaro. Não vejo e não oiço nada. Apenas uma rua normal com o alcatrão a separar-me do outro lado. Fecho os olhos por um momento para massajar as fontes. Quando os abro, não me apanha desprevenido. De certa forma já o esperava.
O autocarro está à minha frente. Vidros fumados. Não se vê nada lá para dentro. A porta abre-se lentamente e ela ali está. De vestido verde como da primeira vez. O perfume que é o mesmo de Chloe. Mas não é só isso que é diferente. Consigo ver-lhe o rosto. O contornos da boca, dos olhos. O pequeno lóbulo da orelhas com que prende o cabelo. È o mesmo rosto de Chloe. Levanto-me e ela sorri para mim. Estendo-lhe a mão e ela abana a cabeça a dizer que não.
Acabou, Santiago. Diz-me numa voz que é a mesma de há umas horas.
Como acabou? Não pode acabar? Não sei sequer o que é isto para poder acabar. Digo-lhe tudo num sopro.
Ela volta a sorrir. É altura de acorda, é tudo o que me diz. Tenho de acordar. Voltar para os ensaios. Diz-me.
E volto a sentar-me. Pesado. Em cima do banco. Na minha frente está a rapariga que Chloe viu no museu quando era criança. Na minha frente está a Chloe que Chloe quer ser. Quando é ela mesmo. Ela continua a sorrir. Com a certeza que faço as associações correctas.
Lembra-te, santiago, sabedoria e conhecimento não é o mesmo que inteligência. Tinhas de chegar por ti. Agora, é altura de eu acordar. Eu disse-te, sei sempre quando vou acordar. É naquele exacto momento. O autocarro não vai passar mais.

A porta fecha-se escondendo-a. Fecheio os olhos e desapareci. 

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