terça-feira, 5 de novembro de 2013

Lisboa Marginal - Part II

Ao final do dia volto a subir a mesma avenida. Os mesmos corpos e rostos da manhã ainda lá estão. Agora amassados de mais um dia. Mais rugas, mais sujidade e mais amargura. Os carros de alta cilindrada fazem também o caminho inverso. Mas amíude. Uns ficam para trás. Mostram o tampo da secretária a amantes e mulheres que recebem dinheiro por carinho falso e descartável. Já os vi. Corredores sem ninguém. Gabinetes de luzes apagadas e máquinas de café desligadas. Mas há uma luz ao fundo com a cidade lá fora já às escuras. Ruídos de desejo e luxuria. Gemidos de prazer real e fingido. Calças pelas canelas e meias de liga rasgadas. Tão triste quanto patético é o sexo escondido dos poderosos. Apaguei a luz e vim-me embora mas bati a porta. O susto terá feito o tesão encolher-se de vergonha. Penso nisso como uma certa conquista. 

Sem comentários: