segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O King Não Vai Nu, O King Morreu

Veste-te filho, vamos ao King ver um filme. Habituei-me a que a minha mãe me levasse com ela. Filmes franceses e outros. Gostava de lá ir. Sentia que fazia parte de um clube secreto. Via filmes que os meus colegas não viam. Sentia-me bem. Alguns demorava a perceber o seu significado. Outros só os vim a apreciar anos mais tarde. Mas sempre que a minha mãe me perguntava se queria ir eu respondia que sim. Lembro-me num inverno particularmente frio em que a minha mãe levava um sobretudo camel e um boina para se proteger do frio. Curiosamente não me lembro do filme. Mas, para mim, o King é também, ou acima de tudo, isto, recordações.
 
Quando vim estudar para a Faculdade pensei que ia poder ir ao King e bater a parte da minha quota naquele clube secreto. Quando tive horário de tarde, em que dois dias saia às oito pensei, vou tanto ao King. Mas, os anos passaram e comecei a ir cada vez menos. E foi isso que matou o King. O abandono a que nós, os do clube secreto, o vetamos. A culpa é nossa. Agora, eu, como muitos, lamentamos a morte da nossa sede. Onde nos reuníamos para sessões clandestinas sob o olhar de todos. A economia é lixada, deixámos de pagar as quotas, e sem quotas não há clube. Podemos todos lamentar. Que o fazemos. Mas somos todos os culpados. Em vez de gritar para que nos ajudem devemos olhar para o que ainda podemos preservar.

4 comentários:

Mafalda Beirão disse...

E como aconteceu com o King, irá acontecer com tantos outros espaços e situações. Lá está, a realidade de hoje em dia, em que tudo é efémero pela facilidade de acesso a tudo.

E disse...

É verdade,tudo efémero. mas nós somos, em muitos casos, culpados. eu sou um dos culpados da morte do King. Deixei de ir. Julgava que estaria lá para sempre. troquei-o por outros sítios. mais perto. mais qualquer coisa. E como eu há muitos. É a velha história. não podemos lamentar as coisas e não fazer nada para as evitar.

Sexinho disse...

Mea culpa também...

E disse...

O sexo e a Idade
Não podemos culpar ninguém que não nós próprios