quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Sem Título



Quando se volta a unir à consciência da minha presença olha para mim. Devagarinho vira o rosto na minha direcção. Continua de sorriso armado. Mas desta vez é um outro qualquer. Os lábios são menos rosa. Parece que é tarde e o dia que se lhe colocou em cima tirou-lhe alguma alegria. Juntou-se-lhe um laivo de cansaço. Talvez tristesa. E naquele momento levanta-se. Mas no compasso em que sai da poltrona e se coloca direita existe um lapso de tempo em que passa a mão pelo meu braço. Um misto de festa e descuído. O que senti não foi apenas uma mão. Foi o peso do passado. Sinto-o cada vez mais perto. Enquanto as costas de uma mulher adulta, bonita, delicada e desejável se aproximam da janela e vislumbro uma garota. Encosta-se com um ombro ao vidro que a separa de uma queda no vazio. Um gesto descuídado e desprovido de profissionalismo do cargo de ocupa, mas revelador da mulher desejável em que se tornou. De pernas trabalhadas e atléticas. Acende um novo cigarro. Mais um. 

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