quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Largo De Camões

Subi até lá na hora de almoço. Três tipos de fato e gravatas com lenços a condizer no bolso, fumavam cigarros enquanto falavam. Olhavam as miúdas e riam-se entre eles. Eram, novos. São novos. Barbichas ralas e óculos de sol na cara. Os bons fatos denotam as boas faculdades. Os rostos denotam os anos cheios de sonhos. Trabalham no centro de Lisboa. No centro de tudo. Saem à noite quase onde trabalham. Deixam os fatos, calçam os ténis. Tinham o cabelo bem cortado, talvez ali no facto. Onde dandy, alternativos e hipsters, lado a lado, esperam por tesouras e máquinas no cabelo.

Sentei-me numa cadeira, sozinho e pedi um café. Levei 5 minutos a beber o café. Foi só isso que fiz. Recuperado. Um pouco melhor. Vim trabalhar. Tinha saudades do Chiado. Vou ter saudades quando me for embora. De onde estava via os três tipos. E lembrei-me da opinião  do meu primeiro patrão, um advogado mais velho que corria todos os dias às seis da manhã. Uma opinião quase tão velha quanto ele: veste-se sempre para o trabalho que queres, não para o que tens.

O que me fez lembrar o meu avó. O meu avó vestia-se no Chiado e na Baixa. Mas só era parte do seu armário. A outra parte era feita num alfaiate. Tudo o que comprava era sempre adaptado. Quando, mais velho lhe perguntei porquê ele disse-me que era imperfeito. E achei aquilo curioso. Porque não nos vestimos para ser mais perfeitos, mas para esconder aquilo que de imperfeito temos. E temos de adaptar. E isso chama-se individualidade. Porque umas calças iguais, todos podem ter. Mas as imperfeições são sempre nossas.

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