segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

No Outro Dia Tive a Ousadia

Nesse dia apanhei um autocarro. Não interessa porquê. Sai de casa, levantei a gola do sobretudo. Ajeitei o lenço no pescoço. Levava Keraouc debaixo do braço. Quando cheguei à paragem só lá estava uma pessoa. Uma senhora. Com ar gasto de quem já tinha apanhado dois autocarros antes daquele. Lancheira que era um saco de papel onde se via embrulhado uma qualquer sandes em papel de alumínio. Olhou para mim. E eu disse bom dia. Não me respondeu. Apenas abriu mais os olhos. Com perguntas nas pestanas. Porque me cumprimenta este tipo. Ali, estávamos os dois. Não nos conhecíamos. Nunca nos tínhamos visto. Ou talvez já, quantas pessoas não vemos nós sem as olharmos? Não me respondeu. Mas morreu-lhe aquilo que foi parecido com uma espécie de sorriso.



Durante todo o percurso do autocarro não consegui ler. Ia a pensar nos cumprimentos. Cumprimentamos excessivamente uns. Não cumprimentamos outros. Há quem chegue ao trabalho e dê dois beijinhos e um aperto de mãos a todos os colegas. Há os que chegam e calados ligam o computador. Esse substituto de pessoas, onde cabe todo o mundo mas nunca diz um bom dia. Que é disso que se trata. A simples capacidade e possibilidade de dizer apenas bom dia. Cumprimentar com um sorriso. Mesmo quando nos custa. Mesmo a quem custa. O Bom dia a sério é o expoente da simpatia nestas alturas. E devia ser apenas o mínimo.

3 comentários:

Kapu disse...

Eu sou desses que cumprimentam toda a gente. Conheça ou não. E o que dizes, essa estranheza com que por vezes nos "recebem" os bons dias, é qualquer coisa que me fascina. Não deveria ser isso o normal??

CAP CRÉUS disse...

Não gosto de falar de manhã. Ou pelo menos até às 11 da matina.
Quanto ao bom dia, digo os suficientes e alguns a custo. Devo confessar.

E disse...

Kapu,

Somos dois. E acredito que fazemos bem.

Cap Créus,

Mas se tudo já é tão difícil porque não da ruma oportunidade aos bons dias? eu acordar só a meio da manhã, mas não prescindo dos meus bons dias.