sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Um Dia Olá Será Adeus

Lisboa parece Londres nestes dias. O céu está sempre cinzento. Não faz muito frio. As pessoas correrem de um lado para o outro enfiadas em sobretudos e agasalhos quentes. No Chiado turistas continuam de câmaras ao alto. Em pose. Em frente de prédios e as suas portas. Das fontes. Da luz. Dos monumentos. Ele chegam e gostam. E nós percorremos as ruas molhadas da noite.


Bebia café no quiosque dos Armazéns. Ao meu lado uma rapariga de leggings pretas e californianas pedia também um café. Olhos de sono camuflados pelas pinturas bem feitas. A voz arrastada da manhã e do tabaco que, ao lado da chávena, repousava com os cigarros. Um tipo alto e jovem, louro mal penteado, talvez de propósito, enfiado num fato de dois botões à moda, demasiado justo, olha de esguelha para a rapariga. São os dois jovens. Ela mais bonita que ele. Ele mais esforçado que ela. Talvez não se conheçam. Talvez se venham a conhecer. Ela termina o café e vai para a loja onde trabalha. Ele, sem descrição, olha-lhe para o rabo. Cobiça-lhe as ancas. Talvez ela tenha-se apercebido. Talvez esteja habituada. Ele termina também o café e vai enfiar-se no seu escritório.


Os Armazéns, não têm muita gente a esta hora. Apenas os lojistas e uns perdidos. Como eu. Como o tipo. No outro dia tive de ir ao Marquês em reunião. E fui a pé. Sempre que posso prefiro saltar a possibilidade de enfiar-me em toupeiras de metal. E, enquanto o Chiado é tendência, a Avenida é classe. E é nisto tudo que me lembro a esta hora da manhã.

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