quinta-feira, 13 de março de 2014

Amores Impossíveis

Tinha combinado café com um amigo. Quando cheguei, atrasado, ele não me deu tempo para dizer nada. Perguntou logo se eu acreditava em miúdas giras no metro? Claro, disse eu. Ele acende um cigarro e só depois de inspirar duas vezes respondeu. Eu não, pelo menos até há pouco. Voltou a inspirar. E contou-me sobre a miúda que viu no metro. Com um livro de Kafka debaixo do braço. Mas o que lhe chamou a atenção foi o cabelo. Como a Briget Bardot. E gira. Linda, mesmo, sabes? Mas um linda porque era peculiar. Os olhos eram tristes e tinha uns lábios pequenos mas muito bem feitos. O nariz parecia um pouco grande. Como se não pertencesse à cara. Mas fazia ali sentido. Era harmonioso. Tinha um casaco florido. Umas calças pretas. Aneis nas maõs. Dourados. Daqueles longos, que cobrem parte do dedo. E umas sabrinas. Sabes, sabrinas? Quando todas as miúdas andam de salto alto ou ténis, ela de sabrinas. Ali, o tornezelo exposto. Como nos livros antigos, onde era quase obsceno mostrar qualquer parte da perna. E ela, sozinha, num lugar de quatro naquele metro provocou-me. Sem o saber, claro. Na minha cabeça imaginei-me a falar com ela. Porque não o fizeste? Perguntei. Perguntei sabendo a resposta. Sabendo que nunca o faria. Como eu nunca o faria. Como quase ninguém o faria. Que diria eu? Sentava-me ao lado dela? Dizia que sonhamos com o momento que a encontramos. Encontramos a rapariga que nos faz sentir qualquer coisa cá dentro? Mesmo antes de sabermos o som da voz dela. Mesmo antes de saber se tem namorado. Se é comprometida. Para onde vai? Mesmo antes de tudo. E quando a encontramos é logo num dia em que nos sentimos desgrenhados. Gastos de um dia de trabalho. Em que nos despachámos de manhã à pressa e não colocámos hidrantante, a nossa pele está irritada e vermelha. Somos a imagem triste daquilo que somos ou desejamos ser. Como ela me iria olhar? Se olhasse

Depois apagou o cigarro.


E quantas oportunidades temos para tentar ser felizes?

3 comentários:

CAP CRÉUS disse...

Adoro mulheres de sabrinas :-)
As francesas é que andam muito de sabrinas.

Lia disse...

Adoro estes amores...

MAC disse...

Ai que saudades!...tenho andado afastada e já sentia falta destas estórias!! :)