Não sou emigrante. Não tenho, de momento, ninguém emigrante na família. Migrantes, tenho. Pessoas que se deslocaram dentro do país. Onde 300 km separam pais e filhos. Avós e netos. Já tive, no entanto, emigrantes. O meu pai, durante a minha infância, foi emigrante intermitente. Saía e entrava no país com espaço de largos meses. Eu, o meu irmão, a minha mãe e o meu pai tivemos para sair várias vezes do país de forma definitiva. O acaso levou a que nunca se concretizasse. Eu próprio nunca saí porque a oportunidade nunca se concretizou.
Sei que custa abandonar um país. Uma vida. Laços de sangue e de amor. Sei, com base numa sensibilidade, pois nunca passei por isso. Nunca fui o que abandonei isto. O meu pai, sempre o meu pai, há quatro anos voltou a sair do país para voltar apenas há um. Mas no meio deste turbilhão nunca vi como fatalismo o mudar de país. Eu próprio gostava de ir. Mas a palavra é gostava. Não o ter de ir. E isso, acredito, faz a diferença. Vários amigos estão algures por esse mundo. Em sítios como Inglaterra, Dinamarca, Angola ou Tailândia. Todos, via facebook e skype, me dizem que estão felizes. Mas todos dizem que custa. Têm saudades deste país com vista mar.
No final desta semana volto a sair do país em lazer. E sempre que me cruzo com pessoas a chegar e a partir me pergunto quantas estão a sair sem saberem quando voltam. Se estão a partir porque querem e gostam ou se tem de ser. Mudar de vida porque queremos é sempre um bom motivo. Mudar porque nos obrigam é solitário. E ainda a semana passada ouvia um actor conhecido dizer na rádio que se dava bem com a solidão. Que todos devemos aprender a estar sozinhos. E eu achei aquilo demasiado hipócrita. Ninguém é feito para estar sozinho. E estar sozinho porque queremos é diferente de estarmos sozinhos porque não temos ninguém. E quem muda porque tem de ser vai, muita vezes, passar a estar sozinho porque não tem ninguém.
2 comentários:
Damn T, tu acertas sempre.
Ontem vi mais uma amiga a sair do pais. Desta vez Brasil... Tem o pai por lá, está há três anos desempregada cá... E porque não sair, dizia-me ela. Mas bolas, é isso mesmo que me custa, ninguém é feito para estar sozinho, e custa ver os nossos a sair. Eu sei que ela não estará sozinha - eu sei. Mas para nós estará sempre 'sozinha' por estar sem nós. E isto de todos os meses ver amigos a saírem do país é uma facada constante no coração. Damn it.
Saem todos os dias. ALguns, talvez, voltarão. Outros não. Alguns serão para sempre emigrantes. Outros ficarão a ser os "novos locais" dos sítios para onde foram.
Somos cidadãos do Mundo. Uns mais que outros. Mas nunca deixaremos de ser apenas só naturais de um sítio.
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