"As pessoas mexem-se de forma como se estivessem a fugir. Julgo que delas
próprias. Do sítio de onde vêm. De trabalhos aborrecidos que lhes sugam os
sorrisos. Depois vão para casa para a televisão a seguir ao jantar. Onde
notíciarios dizem a porcaria que tudo se tornou. Onde aparecem homens de fatos
escuros a pedir confiança para os cargos que ocupam. Mais logo as televisões
desligam-se e apagam-se as luzes. Tenta-se dormir e descansar um bocado para no
dia seguinte repetir-se tudo novamente. Talvez haja sorte e tenham direito a um
pouco de carinho da pessoa com quem dormem. Para os sozinhos, os tristes que ainda
andam a jogar na lotaria dos afectos, há sempre a imaginação de um outro corpo.
Sabe a pouco. Mas é o que é. A minha vida não é muito diferente. Assim que abro
a porta de casa apercebo-se disso. Sou tão idiota."
In, Até Deus Tem Um Inferno
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