Pelo Facetime. Desliguei porque estava no trabalho. Voltou a ligar-me de forma normal. Porque não atendeste?, pergutou-me ele. Estou a trabalhar, respondi. Claro, no teu gabinete rodeado de ecrãs e coisas. Sim, diz lá, disse. Estou apaixonado, respondeu-me.
Este amigo tem o record absoluto de paixões. São várias. Todos os dias. Todos os dias. Diz ele que são paixões platónicas, mas não deixam de ser paixões. Com o Facebook e com o Instagram. Ah, o instagram, diz ele. Como conseguimos ser indiferentes, pergunta retórica que lança constantemente para o ar. Diz ele que se dá conta a fazer refresh vezes e vezes sem conta para ver se ela, a nova paixão, publicou mais alguma foto. Mas que não faz nenhum like. Aprecia-a ao longe. Não a segue. Sabe nome e escreve. Disse-lhe que tudo aquilo era um pouco sinistro. Ele ofendeu-se. Diz que não persegue ninguém. Ela não sabe dele e ele não a prejudica. Apenas está apaixonado. Platonicamente, digo-lhe eu. Sim, mas apaixonado ainda assim, riposta.
E como ela é? Acabo por pergunta. Tento imaginá-la. Alta magra e bonita. Morena ou loira? Mas ele diz-me que é poderosamente feminina. Forte no seu poder. Que ela de certo conhece-se. O seu corpo. a forma das ancas. Das mamas. Dos ossos dos ombros. Da barriga lisa que mostra nos crop tops. Oiço-o em silência enquanto ele a descreve. É lixado isto, penso, saber que cedemos ao poder físico de alguém única e exclusivamente pela beleza que podem ter. Pela sensualidade que emanam. Pelo tesão que transpiram. Somos seres sexuais. E cedemos sempre. Talvez mais nós. Talvez menos elas. Talvez. Talvez sob camadas de bons costumes que dizem que assim tem de ser.
Não me dizes nada? Oiço do outro lado ele perguntar-me. E não, não tenho nada para lhe dizer.
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