quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

No outro dia




Caminho pelo meu bairro para ir beber café. Oiço Serge no iPhone. Antes tinha ouvido Lana. Há qualquer coisa que os liga. Não são os anos que os separam nem a língua em que cantam. Um certo imaginário. Ou talvez apenas faça sentido para mim. Viro à esquerda no prédio amarelo envelhecido. Gosto particularmente deste prédio. Mora um velhote que bebe café no mesmo sítio que eu. Fuma sempre um cigarro no fim. Já lá está à porta com o Dunhill pendurado nos lábios. Cabelo completamente branco penteado ao lado mas desgrenhado. Parece um puto que teve de crescer. Veste uma camisa de um azul claro. Uma Oxford de botões do colarinho com tempo, anos, de uso. Lembra-me a ACNE e as suas camisas. E o seu rosto umas das fotografias. No ACNE Paper o tema poderia ser os rostos da idade. Quantas historias tem um rosto? A publicidade nunca é directa e pelos canais normais. Assim é o meu bairro e o velhote. Não sei o que ele fez durante a vida. Sei que tem uma pequena oficina de carpintaria na garagem. Já me falou dela. Fez lá um cavalo de baloiço para o neto. Agora já tem 15 anos. O puto, cresceu e não liga ao cavalo. Não se importa, diz. Uma peça de certa utilidade tem o prazo que a utilização lhe der. E não teve muita. E As roupa da ACNE? Terão tantas quanto o uso também. Mas existirão sempre nas fotografias. Volto para casa. Ficou lá a fumar o seu segundo cigarro. Volto ao Serge.

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