segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Morre Jovem o que os Deuses Amam - Part VI



Fiquei em silêncio. Ele também não disse nada. Para quebrar o silêncio perguntei, “então e a Ofélia?”. O seu rosto abriu-se num sorriso. deu-me uma palmada na perna e disse “ah, é verdade, a menina Ofélia. Onde é que fiquei mesmo?”
Depois do incidente Ofélia, como lhe chamou, Fernando sentiu um alívio. Contou que a morte trás um vazio que só pode ser preenchido pela paixão. Mas não a paixão dos loucos. Que essa leva também à morte. Mas uma paixão que é um doce. Uma paixão que é um alimento. Para o corpo. Para a alma. Para os olhos. E foi isso que representou Ofélia. O elo de Fernando à vida após a perda de Mário, irmãos de letras e pensamento. Nos dias seguintes pensou em formas de voltar à empresa. Não tinha nada para entregar. Não tinha trabalhado em nada. Por outro lado. A sua veia criativa fervilhada apenas em intervalos. Todos os dias sentava-se nesta mesma mesa, neste mesmo café e escrevia. Cada poema, cada conto, era intercalado com cartas a Ofélia que nunca entregava. Mas continua a escrevê-las. Até que só escreve aquelas cartas. Cheias de palavras de promessas em troca de beijos. Cheia de angústias de dúvidas de nunca cruzar olhares. Cheias de certezas de que o amor é uma invenção de dois loucos que nunca conheceram Ofélia. A personagem que nunca pensou em ver de carne e osso. A personagem de tez branca e cabelos negros. Os meses passaram e Ofélia é uma recordação doce e invisível na sua mente. Decide enviar uma daquelas cartas. Não sabe a que escolher. Tinha-as a todas guardadas numa pasta. Eram dezenas delas. Todas assinadas “o teu Fernandinho” que o envergonha e embaraça. Mesmo que nunca ninguém as tenha lido. Em Março daquele ano finalmente ganha coragem. Entra na empresa e deixa uma carta em cima da secretária de Ofélia. Os dias seguintes foram de extrema agonia. Porque ela não respondia. Não tinha qualquer resposta.

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