segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Morre Jovem o que os Deuses Amam - Part VIII




Fernando perde-se em obrigações e responsabilidade familiares. Percebe que Ofélia atinge um estatuto que a indiferença forçada não consegue esconder. Percebe que a obra só faz sentido com uma musa. Percebe que o que sente por Ofélia é como um sentimento de vislumbre de um Portugal que tudo conquistou. Aquela figura pequenina e dócil de Ofélia representa o seu Portugal perdido. Um país meigo e terno que por sorte, audácia e coincidência conquistou o mundo. Mas Ofélia fica longe. Passa todos os dias pela empresa onde trabalha. Passa todos os dias pela casa onde Ofélia vive. Passa todos os dias por onde Ofélia irá passar. Procura nas paredes o seu rasto. Procura no vento o seu perfume. Não a encontra. E tenta esquecê-la na bebida. Tenta esquecê-la nos elogios aos seus trabalhos. Na bajulação hipócrita de quem perde tempo a ler o que escreve. Nada disso lhe interessa. Um café, um copo e papel e caneta é tudo o que quer. Até que ao chegar a casa tem uma nova carta. Percebe logo de quem é pelo peso do envelope. Percebe logo que Ofélia escreveu-lhe. Demora dois dias a abrir o envelope. Durante dois dias fica sentado em casa à frente do envelope. Ali, naquelas palavras que ela lhe escreveu está a direcção das próximas decisões. Tenta convencer-se de que são decisões, mas antes orientações que o destino lhe dá- Mas finge não acreditar. Voltam a ser enamorados no final da carta. Quando lhe escreve de volta diz-lhe que Lisboa foi escura nos últimos meses. Recomeçam os beijos. Recomeçam as cartas. E recomeça um turbilhão que afasta-os um do outro. O que é diferente atrai-se mas nunca chega perto. O amor não vence tudo. O amor é trágico. Porque o amor não quer finais felizes. E amor apenas lhes concedeu quatro meses até à rutura pela diferença. Afastam-se com beijos de simpatia. Afastam-se com o coração um do outro no peito. A esperança de Fernando é agora o realismo. A vida tem 3 partes, antes de Ofélia, com Ofélia e depois de Ofélia. A vida dá para escrever 44 poemas. A vida é um amor a quem se entrega mesmo que não se queria, mesmo que não seja no fim com quem nos estendemos. Fernando deixa uma Mensagem final, uma história de amor. Um coração desfeito e textos onde o amor está em palavras. E o que é a vida sem o amor? Fernando arriscou que é a literatura. Mas falhou. E o corpo percebe-se do seu estado. Mesmo que Fernando não saiba. Com quarenta e sete anos tomba. A vida foi-se com um último sopro.

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