terça-feira, 5 de março de 2013

Aqui não se descrimina



 
Sou branco. Nasci assim. Não tive qualquer influência na cor da minha pele. De todas as cores do mundo, sou a ausência da cor. Branco, sem piada nenhuma. Mas se fosse preto, amarelo, castanho, vermelho, seria sempre eu. Teria duas pernas, dois braços e conseguiria falar com quem necessitasse. E continuaria a escrever aqui. Seria uma pessoa como todas as outras. Como a que sou hoje. Teria mudado apenas a cor da minha pele. Saberia rir-me. Alto e baixo. Conseguiria beijar e abraçar quem amasse. Teria de fazer um esforço para perdoar a quem me odiasse. Tal como hoje. Consigo beijar e abraçar quem amo. E tenho de fazer um esforço em perdoar a quem me odeia. Olhando para isto não vejo onde é que a cor da pele nos diferencia se continuava tudo na mesma.

Então, porque se descrimina esta coisa que ninguém controla, que ninguém tem influência? Uns nascem branco, outros pretos, outros amarelos, outros vermelhos. E há ainda uns que nascem tão branquinhos que quase não podem apanhar sol.
 
É como os afectos. É como o gostar. É como o amar. O abraçar. Gostar de alguém também não é uma escolha pessoal. Acontece. Porque a pessoa é gira. Tem pinta. Gosta da mesma música. Mas depois há aquela coisa que ninguém consegue colocar um nome. Gosta-se e pronto. Muda alguma coisa por gostar de quem se gosta? Continua-se a ser uma pessoa que gosta de uma outra pessoa. Qual é a diferença se aquela outra pessoa é um homem ou uma mulher? É apenas gostar de uma pessoa. E toda a gente gosta de uma qualquer outra pessoa. Uma pessoa que tem duas pernas e dois braços. E pode ser branca, preta, amerela ou vermelha. São pessoas a gostar de pessoas.
 
Há um ano mais ou menos estava em Barcelona. Na altura fumava um cigarro na rua. Fazia tempo enquanto esperava. Um tipo com tatuagens no braço e uma t-shirt preta do Ramones pediu-me lume. Dei-lhe. Quando ele acendia o cigarro reparei no boné com um símbolo do Punk Hardcore. Calções largos e uns Air Jordan. O tipo era maior que eu. E mais largo. Bastante forte. Ficou ali a uns passos de mim também à espera. Quem ele esperava chegou primeiro. Alguém igual a ele. Alto e largo. Com tatugens de pin ups nos braços. Barba. Uma T-shirt larga com 3 X`s estampados. Cumprimentaram-se com um beijo na boca. Deram as mãos e foram-se embora. Ela chegou ao pé de mim e perguntou o que fiz enquanto esperava. Nada, fumei um cigarro.
 

 

2 comentários:

Heriwen disse...

Tinha uns 7 anos quando me explicaram o que era o racismo. Lembro-me de não perceber, de tão ridículo que achei. Continuo sem perceber.

E disse...

Eu sei desde cedo. Mas desde cedo que ñão percebo é o odeio ao que é diferente. Isso não percebo mesmo