quarta-feira, 27 de março de 2013

Autobiografia

Deveria ser um romance. Depois passou para uma novela. Chegou a ser pensada em conto, mas vai acabar em post. Porque não sei o fim e tenho apenas fragmentos de como começou. Nasci. Há três décadas atrás. Era louro com caracóis. Foram-se os caracóis ficou o louro. O tempo também encarregou-se de levar isso. Nasci banal, cresci banal e sou banal. Joguei à bola com os putos no bairro. Era razoável. Mas muito rápido. Mesmo sendo um dos mais baixo. Hoje não sou nada disso. Tive uma bicicleta BMX cromada. Era para cima de espectacular. Ali pelos 13 anos tornei-me muito popular entre as raparigas. Era fixe. Sentia-me o maior. Depois elas começaram a apaixonar-se pelos Bad boys. Eu era apenas um puto que andava de bicicleta, lia livros e usava uns ténis bota que o meu pai me trazia de Nova Iorque. Branquinhos. Mesmo giros. Nessa altura o meu irmão já existia e tinha vontade própria e uma personalidade vincada. Mais que a minha. Era mais teimoso. Andava comigo de bicicleta. Lia os mesmos livros que eu. O que era porreiro, podíamos rodar. Anos mais tarde quando sai de casa foi lixado. Quem é que ficava com os livros? Fizemos um pacto, vamos deixa-los sempre na casa dos pais. Na biblioteca do pai. E assim lá estão eles. Um deles é “Mataram a Cotovia”. Não é o meu livro preferido mas é o que me enviou para Direito. Nesta altura era ainda mais banal. As miúdas se me ligavam ficavam caladas. E eu era tímido como um raio e não falava muito. Acho que é por esta altura que vejo as Vanity Fair da minha mãe, bem como as Vogue (a americana é a que a mãe gosta, dizia-me ela). O mundo não era a preto e branco. As miúdas e as mulheres eram lindíssimas. Depois fui para a faculdade. Mas antes de ir tive a primeira dúvida existencial. Em cima da mesa estava filosofia, turismo e direito. Ainda hoje não sei se fiz a escolha certa. Gosto de acreditar naquilo que me dizem, fiz a escolha que era a certa para mim. Então fui para a faculdade tirar Direito. Passei lá uns anos valentes. Foram uns anos bons. A primeira coisa que notei no primeiro dia de aulas é que não tinha sapatos de vela como os outros. Foi lá que escrevi a primeira vez algo que foi publicado. Foi num jornaleco no norte onde estavam a estudar uns amigos meus.  

Bem, depois acabei o curso e as coisas a partir daí tornaram-se mais confusas. Até chegar até hoje. Pelo meio, e mesmo antes de ir para a faculdade, houve várias coisas que me fazem compreender o hoje. Os movimentos a que pertenci. As causas a que aderi. As viagens que fiz. Gosto de lembrar da que me levou a Paris pela primeira vez. Apesar de não ter gostado na altura e não a ter comigo naquela vez, vi como o mundo era visto por polacos, franceses, alemães, ingleses. Todos tinham sonhos. Gostava de saber se os concretizaram. Acho que as viagens e os livros que lemos definem-nos por nós. A outra parte é pelas pessoas que conhecemos. Espero ter lido os livros certos. Uma vida não é suficiente para tudo. Infelizmente. Alguns ficar por abrir. Algumas viagens ficam apenas pensadas. E alguns sonhos terminam quando abrimos os olhos.


I don't know why I write what I write.
Bret Easton Ellis
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