sexta-feira, 2 de agosto de 2013

As novas regras do pudor

Camisa branca. Gravata de lã verde. Fato cinzento e wingtips pretos. Mais um dia normal numa semana de trabalho. Falta os wayfarer no rosto se não trouxer os óculos de ver. Descer ao chiado a meio da manhã para um café. Ou na hora de almoço. O calor torna quase insuportável. Dizem as regras – e as tradições - que tem de ser de fato e gravata. Há quem desça sem o casaco e com as mangas da camisa arregaçadas. Não consigo. Existem regras para tornar o calor mais suportável. Há quem se descalce no escritório. Eu sou um deles. Por baixo da secretária tenho um pequeno tapete em forma de relva. É fantástico. Os críticos deviam experimentar primeiro. Mas volto cá a abaixo. Onde o calor subsiste. Onde miúdas de tank top cações curtos passeiam-se. Tipos de calções e t-shirts fazem-lhes companhia. Uns de polos ou camisas de algodão. E nós, os "suits", perfeitamente equipados.

Em Nova Iorque o calor tem trocado as voltas a algumas regras. Nova Iorque que começa a parecer Califórnia. Onde tudo é mais laid back. Pessoal a andar sem camisa. Com o torso a mostrar o esforço do ginásio. Está calor. E o calor por vezes faz quebrar as regras. Mas quais regras? Até porque algumas podem já não fazer sentido. Podíamos largar a gravata. Era um pequeno passo. Só um. Thom Brown não muda nada. Nada menos passar de calças para os calções (debato-me seriamente sobre a questão "calções"). Mas no artigo da New York Times dicas sobre como suportar o calor. O bafo quente. Mas descer e subir o Chiado em tronco nu parece-me demais. Eça dizia que qualquer cavalheiro tinha a obrigação diária de passear pelo menos duas vezes no Chiado. Não nos esquecemos, o tipo era um burguês. Com um olho acutilante para os seus pares. Como eu gostava de ter. Para os que comigo partilham o fato e a gravata.

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