quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Lisboa Marginal

Desço pela manhã uma das maiores avenidas de Lisboa. Dividida em tantas partes quanto as gentes que vai vivendo ao longo da sua dimensão. Uma puta sai de uma porta pintada de verde antigo e gasto. Fala numa qualquer língua estrangeira ao telemóvel. Fodida por uma noite mal dormida de insónias e clientes. Figura possante de tesão construída sem todos os outros artifícios de afectos.  Velhos de boinas cinza rato e gastas com calças atadas na cintura com cordas e cordéis bebem cafés em tascas escuras que tresandam a álcool reles de pacote. Ouve-se das varandas e janelas, onde secam roupas penduradas, música popular que sai de telefonias com sintonizadores manuais. Pelo alcatrão deslizam carros de alta cilindrada com pessoas bonitas e cuidadas lá dentro. Protegidas pelos vidros vão lá dentro a ouvir as piadas matinais feitos autómatos e a julgarem que têm uma boa vida. Os cabrões.     

 

4 comentários:

MAC disse...

O realismo com que escreves é tocante...

CAP CRÉUS disse...

Muito bom!
Obrigado!

E disse...

MAC,

Obrigado. Mas é só descer uma rua e relatar ;)

E disse...

CAP CRÉUS
Eu é que agradeço, pá!