sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Chapéus Há Muitos




Há anos que não uso chapéu ou boné ou qualquer outro nome para algo que se coloca na cabeça. O primeiro chapéu, boné, cap, que lembro foi prenda do meu pai de Nova Iorque. Um dos New York Knicks. Azul e laranja fechado atrás. Andava com ele para todo o lado. Enfiava-o até aos olhos. Não só me tinha sido oferecido pelo meu pai, como era de Nova iorque e tornava-me invisível. Pelo menos achava. Não me viam os olhos, eu passava despercebido. Era puto e parvo. Uns anos depois havia a moda de dobrar a pala do boné, mas eu orgulhosamente continuava a mantê-la direita. Lembro-me que no liceu onde andava um dia, uma das raparigas mais velhas - bonita - levantou-me a pala e perguntou porque escondia os olhos. Puxei apressadamente a pala para baixo. Com vergonha. E sem saber o que responder. Ela voltou a puxar-me a pala para cima. Mas não havia qualquer intenção de desafio ou gozo. Era uma espécie de bondade. Tirou-me o chapéu e deu-me uma festa na cabeça. Colocou-o na sua própria cabeça e perguntou como ficava nela. Eu disse que ficava bem. Admirado como ela perdia o seu tempo comigo. Claro que era um puto. E ela a miúda mais gira do liceu. Havia montanhas entre nós. Ela devolveu-me o chapéu e foi ter com os tipos mais velhos e cool. Eu voltei com o meu chapéu enfiado nos olhos para ao pé da minha sala.

Algum tempo mais tarde roubaram-me o chapéu. Esperava pelo autocarro quando em Inverno profundo, protegidos pela escuridão, tiraram-me o chapéu e fugiram entre carros e prédios. Chorei quando entrei no autocarro para casa. Uma senhora perguntou-me porque chorava. Roubaram-me o meu chapéu. Não te preocupes, disse-me, chapéus há muitos. Mas ela estava errada. Como aquele só havia o meu. Não me importei em epxlicar que aquele chapéu tinha vindo de longe. Continuei a chorar e dar golfadas. Ela continuou a dizer vãns palavras de conforto até eu descer na minha paragem. Quando cheguei a casa os meus pais perceberam rapidamente. Não me disseram nada. Durante o jantar falaram de outras coisas e ignoraram o óbvio. A minha cara vermelha. Os meus olhos inchados. O ter chegado a casa sem o chapéu na cabeça. O meu irmão, ainda mais puto não disse nada também. Depois, o meu pai chamou-me à sala. Sabes, disse-me, as coisas, coisas, objectos, apenas têm o valor que têm se nós deixarmos. Podem significar muitos, mas não deixam de ser coisas. E signicar alguma coisa não é o mesmo que ter valor. Voltei para o meu quarto e nunca mais usei um chapéu ou boné, cap, gorro, ou qualquer outra palavra para designar algo que se coloca na cabeça.

Até este Verão. E agora desejo um para o Inverno. E desejo um chapéu para a semana com o fatro. Um boné, cap, para o fim-de-semana. Porque, para o verão, já tenho um. Poque, a senhora tinha razão, chapéus, há muitos.

6 comentários:

Mafalda Beirão disse...

Chapéus à muito e lá está, terá o valor que tu lhe deres. Talvez esteja na altura de valorizar um novo chapéu!

Xuxi disse...

Por favor Melody
Chapéus há muitos
Agradecida
Por cada erro crasso de português há uma ruga de nojo nos meus lábios

E disse...

Melody

Talvez. Já ando na busca :)

E disse...

Xuxi

Um pequeno lapso, nada de mais ;) todos nos enganamos. Eu que o diga

Mafalda Beirão disse...

Erro que eu própria condeno nos outros... Mas lá está, todos erramos e todos acabamos por cair no que mais criticamos. Que nunca aconteça por esse lado Xuxi.

Xuxi disse...

I hope not
If it does please let me know ASAP
I have OCD with that kind of thing