terça-feira, 5 de novembro de 2013

Somos Selvagens. Mas Não Somos Bons

Lisboa, ontem, noite à espreita. Pessoas correm velozes para casa. Está frio e chuvisca, aquela água que molha os incautos. Alguém estaciona. E Rousseau estava errado. Nunca deixámos a selva e não somos bons. Somos maus, violentos, odiosos. E sempre seremos. Um outro alguém sai de um outro carro, agarra-se à porta do carro que estacionou e grita. Grita sob a noite à espreita. Porque é à noite que os demónios aparecem. Já estava à espera do lugar, por isso, faça favor de sair. Dito com raiva na voz. Com desprezo e malícia.

Não sei se quem estacionou primeiro não viu quem já esperava. Talvez tenha visto. Talvez não. Mas tudo aquilo me pareceu demais. Gritar por um lugar de estacionamento com a fúria de quem tem fome. É um exagero. Ou a merda em que tudo se tornou mostra o que se tem de pior. É que esse lado é feio. Todos perdem num jogo que não tem fim. Um lugar de estacionamento! Haverá outro acima. Mas o que terá aquela pessoa sofrido durante o dia para explodir por um lugar para o carro? E se, quem estacionou, viu quem esperava, que conquista representa roubar um lugar para o carro? Um pedaço de chão onde se deixa, temporariamente uma máquina. É só um sítio para uma máquina que não sente, não vive, não tem nada. Leva-nos de um lado para o outro. É um electrodoméstico no qual nos conseguimos enfiar.




Cérebros brilhantes também podem produzir grandes sofrimentos. É preciso educar os corações.

Dalai Lama

2 comentários:

Carol disse...

Isso fez-me lembrar uma imagem que vou colocar agora..

E disse...

E eu vou ver.