domingo, 3 de novembro de 2013

Um Mundo Ao Contrário

Em que se vive de dentro para fora. Construímos pessoas parecidas connosco, mas somennte na imagem. Nada mais. A possibilidade de nos reinventarmos é bastante presente e apelativa. Afinal, todos queremos mudar certa coisas. Mudamos gostos, ideias, opiniões, lugares e tudo mais. Tudo disponível à distância de um texto ou de um fotografia. A vida tornou-se um wall no Facebook e os álbuns de fotografias estão no instagram. Nascem engates online. E ainda nos questionamos se alguma vez o sexo, literalmente, pode ser virtual. Já esteve mais longe.

A secretária da empresa veste-se todos os dias de cinzento. Lábios sem qualquer cor de baton e cabelo invariavelemente apanhado num aborrecido carrapito. Sapatos pretos com meio saltos de borracha que são confortáveis para a distância  da estação do comboio para o metro e do metro para o Marquês. Mas quando chega a casa despe o cinzento monótomo e mostra as meias de ligas. Pinta-se de preto, encarnado e rouxo. Liga a câmara e é uma dominadora implacável. As fotografias no instragram são de noites onde o normal fica à porta e o fetiche consome o desejo. O informático da empresa de t-shirts com frases estampadas ri-se alto. Tem gigas de fotos de gajas no computador. Faz piadas para as miúdas na fila para o café. Sai à noite com os amigos para se encostar ao bar a dizer o que fazia à gaja mais gira na pista de dança. Chega a casa e escreve textos sobre as mil formas de fazer uma camisola com as técnicas antigas de tricot. A miúda de 20 anos que entrou para a faculdade de línguas há dois anos. Tem um blog sobre as últimas tendências sem nunca ter saído de Braga. Tem um facebook para o blog quando não tem um pessoal e mostra imagens que não são suas no instagram.

Deixamos que o que estava fora, a vida, entrasse para dentro, o virtual, que quer dizer o não real. Tornou-se de tal forma massificado que perdemos a noção do que é criado ou não. E é uma teia de tal forma impregnada de cheiro do tempo esquecido que estou a escrever aqui e alimentar uma vida que é minha não o sendo.

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