quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Anos 80. Por Elas

Íamos para o algarve todos os anos. Todos tínhamos casas ao lado uns dos outros. Não era mais do que passar para outro sítio o que fazíamos em Lisboa. A praia era de manhã com os nossos pais. Brincávamos na areia. Fugíamos das ondas pequeninas. As nossas mães falavam em voz baixa e fumávam cigarros debaixo do toldo. Escondidas por debaixo de um chapéu de palha e óculos de sol quadrados e grandes. Os nossos pais fumávam charutos. Fingiam que corriam junto à praia e falávam de negócios uns com os outros. Depois liam o jornal debaixo do toldo. As nossas mães besuntavam-nos de creme. A elas punham bronzeador. Os nossos pais não colocavam nada. Nós usavávamos fato de banho. As nossas mães bikinis que compravam em Lisboa com o cuidado de nenhuma ter um bikini igual. Os nossos pais calções de banhos às riscas. À tarde ficávamos nas piscinas. Os nossos pais faziam grelhados. As nossas mães preparavam sumos para nós e cocktails em jarros de cores bonitas para elas. Os nossos pais bebiam vinho tinto alentejano ou licores no final. À noite iam-se deitar todos muito alegres. E nós, juntos das sombras ondulantes das piscinas, falávamos umas com as outras.  E sonhávamos.

3 comentários:

Carol disse...

Tal e qual, sem cigarros nem charutos :) Que saudades!

Kapu disse...

Nostalgia filha da mãe que bateu agora. Mas não são ainda assim, os nossos verões? Pontualmente? É possível (e desejável) continuar a sonhar enquanto adulto, parece-me.

E disse...

Carol,

Há coisas que são iguais a todos.

Kapu,

Eu recuso-me a crecer, pá!