Íamos
para o algarve todos os anos. Todos tínhamos casas ao lado uns dos outros. Não
era mais do que passar para outro sítio o que fazíamos em Lisboa. A praia era
de manhã com os nossos pais. Brincávamos na areia. Fugíamos das ondas
pequeninas. As nossas mães falavam em voz baixa e fumávam cigarros debaixo do
toldo. Escondidas por debaixo de um chapéu de palha e óculos de sol quadrados e
grandes. Os nossos pais fumávam charutos. Fingiam que corriam junto à praia e
falávam de negócios uns com os outros. Depois liam o jornal debaixo do toldo.
As nossas mães besuntavam-nos de creme. A elas punham bronzeador. Os nossos
pais não colocavam nada. Nós usavávamos fato de banho. As nossas mães bikinis
que compravam em Lisboa com o cuidado de nenhuma ter um bikini igual. Os nossos
pais calções de banhos às riscas. À tarde ficávamos nas piscinas. Os nossos
pais faziam grelhados. As nossas mães preparavam sumos para nós e cocktails em
jarros de cores bonitas para elas. Os nossos pais bebiam vinho tinto alentejano
ou licores no final. À noite iam-se deitar todos muito alegres. E nós, juntos
das sombras ondulantes das piscinas, falávamos umas com as outras. E sonhávamos.
3 comentários:
Tal e qual, sem cigarros nem charutos :) Que saudades!
Nostalgia filha da mãe que bateu agora. Mas não são ainda assim, os nossos verões? Pontualmente? É possível (e desejável) continuar a sonhar enquanto adulto, parece-me.
Carol,
Há coisas que são iguais a todos.
Kapu,
Eu recuso-me a crecer, pá!
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