terça-feira, 11 de março de 2014

Já Não Existem Cartas De Amor

Mails? Alguns, ainda. A caligrafia é substituída pela escolha do tipo de letra, quando alguém se dá ao trabalho. Uma amiga minha disse um dia que despachava namorados que lhe escreviam em Times New Roman. E talvez tenha razão. Porque do outro lado dificilmente havia empenho em cuidar dos pormenores. Leva-se mais tempo a escolher a t-shirt que combina com as calças e o que se calça. Mas não se leva esse tempo para escolher a letra que se escreverá o que se sente. A forma deve acompanhar o conteúdo. E as relações são súmulas de pormenores. E a letra de uma carta, ou mail, de amor é mais um. Mesmo que seja um email escrito na hora de trabalho enquanto se come uma sandes à frente do ecrã.  

Já não existem cartas de amor. Agora são mensagens escritas. Digo tudo em 140 caracteres quando isso é tanto e ao mesmo tempo tão pouco. Reduz-se a importância da carta, mas banalizam-se os
Amo-te. Escrevem-se os Curto-te bué miúda. Despreza-se os simples gosto de ti. As mensagens sucedem-se durante o dia. Banaliza-se o envio e a entrega. São amores instantâneos que não se sentem. Mas escrevem-se. Porque sim. Porque é isso que se espera. Porque tudo é mais dramático. Numa contradição de quem já não espera uma chamada de volta, Envia uma mensagem com pergunta porque não respondes?

  

1 comentário:

Dias Cães disse...

Pois eu escrevo muitas cartas de amor. Daquelas que se metem no correio com selo e tudo.
Claro que dá mais trabalho, mas o prazer também é outro.
Creio que a motivação vem, sobretudo, do outro lado, do receptor. De sabermos que, efectivamente, a outra pessoa é um receptor das palavras e do amor que lhes colocamos.