terça-feira, 17 de junho de 2014

A Polémica Dos Despedimentos Na Comunicação Social

A notícia saiu. O Arrumadinho escreveu. A cócó respondeu. Comentários foram publicados. E eu, por norma, não abordo questões blogoesféricas. Não abordo polémicas. E por norma não menciono outras pessoas que têm blogs. Mas, toda a regra tem excepção. E esta é a excepção. E as razões são  apenas duas: tenho amigos que trabalham em comunicação social, e a questão em si, por envolver a comunicação social, é-me querida.

Não concordo com a visão uber optimista do Arrumadinho. De levantar a cabeça, ir à luta e voltar a erguermo-nos. Porque isso é o desejável. Sempre. E depois, é sempre necessário fazer o luto. A vida não é, infelizmente, a preto e branco. Estas pessoas acabaram de perder o emprego. Acabaram de saber que vão ficar sem os salários (não conto com as questões dos apoios e indeminizações). Ou seja, há toda uma dimensão social e pessoal que não se coaduna com o "levanta a cabeça, vai à luta, reinventa-te". A pessoa precisa pensar. Admitir falhas - se as houver. Pensar como, e de que forma, vai restruturar todos os planos que tinha. E não apenas e só pensar que isto é uma oportunidade. Claro que há quem verá as coisas assim. Ainda bem.

Não concordo também com a Cócó. Que se trata de uma injustiça. Que se trata de um despedimento baseado com folhas de excel à lá Vitor Gaspar a desenhar impostos. Parece que se esqueceu que há maus profissionais que minaram os bons. E a isso se juntou um mercado que cada vez lê menos. Ela não deixa de ter razão. É uma injustiça. Claro que é. Mas num mercado em crise há sempre fatalismos. Porque um mercado não existe sem consumidores. Mesmo que a culpa seja do consumidor que se recusa a consumir (mas, fará dele um culpado, por isso?).

Há bons e maus profissionais. Nenhuma industria é como o mito de as prisões estarem cheias de inocentes. Claro que há os maus. E os maus minam os bons. Minam os trabalho dos bons. Porque numa empresa, numa qualquer empresa, os trabalhos, as funções são em cadeia. E admitir essa realidade é assumir uma responsabilidade que todos - sem excepção - têm de combater os maus.

O que nunca se abordou de uma perspectiva mais ampla é que os bons - que também existem - fazem boas peças. Bom jornalismo. Mas fazem parte de uma industria que vive numa crise. Numa crise em que torna os jornais aborrecidos. As revistas previsíveis. E tudo num bom e velho saco de que a impresa é cada vez mais para nichos. E nichinhos. Lê-se menos. Cada vez menos livros. Cada vez menos jornais. Cada vez menos revistas. E as revistas têm cada vez mais fotografias e umas chamadas a fazer de legenda.

Não sei qual é a solução. Mas com quase toda a certeza é admitir que existe um problema. Há uns tempos, uma outra pessoa que tem um blog, o Artur in The Woods, escrevia que as revistas (mais ligada à moda, é verdade) iriam sucumbir. E que as especializadas, julgo que ele dava o exemplo da Apartament, iriam sobreviver. Com todo o devido respeito, essa é a opinião que nos conduziu a esta situação. Porque alimentar os nichos e deixarmo-nos de preocupar com o mercado, com a maioria, é a ruina ecómica.

Há uns tempos no programa "Sharks Tank", na sic radical, um empreendedor de uma "cool brand" recusou a proposta de um dos sharks porque não queria vender no walmark. E isso parece a perspetiva de quem defende as revistas/jornais, e outros, de tiragem para nichos. Porque ao final do dia todos têm contas para pagar. É o estigma de não querer ser comercial. Como se isso fosse ser sujo.  Mas isso é a diferença entre pagar as contas e não pagar muitas das vezes.

Mas onde ambos se agudizam no seu discurso é que o Arrumadinho é demasiado peremtório. A cócó demasiado permissiva. O Arrumadinho cai, na minha opinião, no auto exemplo. No auto elogio indireto. E a Cócó trata todos por iguais, são todos os injustiçados. Toma as dores da classe.

Opiniões todos as temos. Mas temos, na minha perpectiva, olhar para o cenário no seu todo. É uma situação desagradável. Mas não há preto e branco. Há uma realidade: despedimentos colectivos. Porquê? Porque razão? Para quê?




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