Esta frase é de João Lobo Antunes quando na passada terça-feira retirou-se do ensino. Um vida cheia - como se espera sempre quando os anos já são mais os que estão para trás do que aqueles que olhamos para a frente. E é verdade, o tempo passa muito depressa. Não lhe damos importância quando somos novos. Aliás, queremos mesmo apressa-lo. Quando se é pai - dizem os meus amigos que o são - queremos para-lo. E quando já temos muitos anos em cima, queremos andar para trás e reviver tudo de novo.
O tempo passou tão depressa. Pergunto-me se esta ideia passa pela memória de uma senhora de idade e cabelos brancos com quem me cruzo todos os dias quando vou para casa. Quando todos regressam a casa ao fim do dia, ela também regressa. Acontece que a casa dela são umas escadas na junção de dois prédio. E ali se senta ela com a sua trouxa, braços cruzados em cima do joelho e olhar perdido na estrada. Aposto que nos inveja a todos. Aqueles que têm um tecto para ir. Mas uma inveja de quem não deseja mal. Apenas quer o mesmo. Deseja o mesmo para si. Porque tem direito. Mas o mundo não é correto. O tempo passou tão depressa. A vida desta senhora esfumou-se depressa e viu-se sem casa. Sozinha. Sentada num vão de prédios para passar a noite.
Dois destinos diferentes. Duas vidas diferentes. Duas formas de olhar para o passado que, aposto, são diferentes.
1 comentário:
Hoje escrevi também sobre a idade. Sim, o tempo voa! E sim, há pessoas que cruzando-se em espaços comuns, no dia-a-dia, conseguem ter vivências, desejos, sonhos e necessidades tão diferentes... a vida, as vidas, são um rodopio estonteante!
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