terça-feira, 14 de março de 2017

Há 9 anos atrás comecei a trabalhar nas funções que exerço agora. Era ainda um puto. Cheio de tesão pelo trabalho. Vou ser um dos maiores do país no que faço. Onde sucesso se confundia com status. Sim, ok, confesso, fui um dos iludidos da minha geração.

E há 9 anos fui tirar uma pós-graduação. Na minha cabeça era o caminho normal para o sucesso. Curso. Pós graduação. Depois o mestrado. E, quando fosse para consolidar o meu nome tiraria o doutoramento. E, para todas as fases já tinha pensado o tema. Seria um dos maiores vultos do Direito Nacional. Nacional e Internacional. Porque o Direito Humanitário seria a minha praia. Nações Unidas. Um Nobel. O mundo aos meus pés.

Mas entretanto a pós-graduação.

Lá conheci algumas pessoas. Metade não recordo sequer o nome. Na realidade só recordo o nome de uma pessoa. Uma miúda pequenina. Loura. Era gira. Com um nariz arrebitado. E, por alguma razão demo-nos bem. E é precisamente de uma conversa que me recordo.

Estávamos no bar no intervalo e ela pergunta-me porque vim fazer a pós-graduação. E eu, naquela minha ingenuidade, disse que era o primeiro passo na minha gloriosa carreira. A segunda seria dentro de um ano estaria a ganhar 2 mil euros e carro de empresa.

Hoje vi no Facebook que ela foi mãe.

Eu fiquei-me pela pós-graduação.


O Direito Comercial tirou o lugar ao Direito Humanitário.

Estou mais velho.

Hoje, quando me vi no espelho da manhã, ainda vi o puto.

Talvez perdi a noção da realidade.




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