quinta-feira, 2 de março de 2017

Já li muita merda sobre o Amor. Que é lixado. Que é fodido. Que é bonito. Que é doce. Que enternece. Que zanga. Que adormece. Tudo tretas. Ninguém sabe o que é. Verdade. Ninguém.


Quando somos putos perguntamos, Pai, o que é o amor? Não sei se todos perguntam. Eu perguntei. Não me lembro da reposta do meu pai. Acho que também passados mais de 30 anos não seria provável que me lembrasse. Ou, sequer, como é que o meu pai se safou. Mas já tinha escola em saber desviar-se de perguntas incómodas. Uma vez, já eu sabia ler, na porta da casa-de-banho de um café onde tinha ido com o meu pai e uns amigos estava escrito: A joana bate boas punhetas!Claro que quando cheguei perguntei. Metade engasgou-se. Outra metade abriu a boca em silêncio. O meu pai, por outro lado, manteve-se normal e disse, olha, é uma forma de bater umas bolas, nada mais. Ok,estou a inventar esta parte. O meu pai quase que cuspiu o café.

Mas sobre o Amor, acho que a verdade mais simples é simplesmente que é complicado. O Amor é complicado. Amar é complicado. Nada mais.

O meu pai não era a minha única vítima das minhas perguntas angustiantes sobre o Amor. O meu avô era outro coitado. Mas este tinha mais poder de encaixe. Também era mais bruto. Fruto de outra época. Ou de outro molde. Não interessa. A resposta do meu avô já me lembro, até porque a pergunta foi diferente: Avô, amas a avó?

Gostava de conseguir ilustrar a imagem do meu avô a olhar para mim antes de responder. Um tipo aprumado. Cabelo bem penteado para trás, cor prata. Fortes rugas e um nariz muito direito por baixo de umas grandes e espessas sobrancelhas.

Olha, amo a tua avó e adorava não amar.

Assim. Bruto.

Uma vez que não me lembro de os ver discutir nunca percebi bem a resposta. Além dos meus pais eram o casal perfeito. Hoje, já só com a a minha avó, e confinada a espaços curtos de memória, não sei se ela algum dia me irá explicar a relação com o meu avô. Mas o que retive era que aquilo, o Amor, era bonito e mau.

Complicado. A palavra exata.
Há uns anos vários, e já adolescente jovem adulto. Estava numa relação - sui generis - que veio a terminar. Não pelo que irei contar. Eu gostava dela, tinha a certeza. Ela gostava de mim, sentia isso. O mundo à nossa frente. Tudo bonito. Tudo fantástico. Até que conheci uma outra rapariga. Era diferente. O coração batia por ela. Mas também por quem estava. Sentia tesão por com quem estava. E uma atração estranha por esta nova rapariga. Nunca nos beijamos. Nunca nos tocámos. Era uma amiga. Mas um tipo sente. E aquilo nunca passou daquilo que nos afastámos. E a minha relação ainda durou mais algum tempo. Pelo menos até ao fim do secundário.

É possível amar duas pessoas?

O amor é gostar ao cubo?

A raiz quadrada da paixão leva-nos a amar alguém?

E sexo, é Amor?

E foder é gostar apenas da carapaça?

Pffff, é complicado.

Um amigo meu diz que não há Amor sem atração. E só há atração se houver amor. Um outro diz que há Amor quando acorda de manhã e ainda envolve a namorada nos braços. Eu já lhes disse que isso são truques ou métodos para atestar do que sentem. Mas não insisto muito porque não quero ser o responsável por colocarem as suas relações em questão.

A mistura parece sempre ser a mesma, na realidade. Um corpo que nos atrai. Dá pica. Tusa. Uma pessoa com quem gostamos de estar, calados. A conversar. Companhia apenas por estar ali. E, voilá, há Amor. Ok, há mais à mistura. Mas estes parecem ser os ingredientes principais. Ou mais normais e recorrentes.

Então, o que nasce primeiro, essa atração ou esse gostar da companhia? Ou nenhum. Há os que defendem que a culpa é das feromonas. Mas acho isso demasiado cientifico e sem graça. Andarmos pela rua e o cheiro do sovaco de alguém ser o fator decisivo é apenas estranho.

Querida, a culpa não é tua. Nem minha. Mas daquela rapariga que, logo hoje, vestiu uma blusa de alças. Eu não queria. Tapei o nariz. Treinei o dia todo apneia. Mas não consegui. tive de respirar no exato momento em que ela levantou o braço. Tudo muito inocente. Apenas para dizer adeus a uma colega. Mas já fui tarde. O cheiro do gel de banho a côco misturado com o odor da sua pela já me tinha agarrado. Ainda corri para o gordo do escritório. Enfiei a cara no sovaco. Não deu resultado. Enfiei, em desespero, a cara na virilha do tipo. Mas nada disso resultou. Terei que te deixar por ela. Espero que descubras um tipo cheiroso por aí. Não leves a mal. Mas vê lá bem que isso não é tudo. O gordo insultou-se, apresentou queixa e vim para casa com um processo disciplinar.

Foda-se, e ainda dizem que o Amor não é complicado.

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